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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Da lancheira à educação avançada


Há alguns dias um perfil no facebook postou a foto de uma antiga lancheira. De imediato a reação das pessoas foi intensa. Os comentários de “tive uma”, “que saudades”, “bons tempos” e muitos outros surgiram aos montes, tanto que o perfil confirmou ter sido a mais compartilhada.

Sem dúvida alguma as lembranças de nossa época de escola sempre nos trazem boas recordações vividas em um momento em que a vida nos era tranquila e alegre, pelo menos para a maioria das pessoas.

A lancheira então nem se fala. Ela era usada na hora do intervalo ou recreio como se dizia em minha época. Era o melhor momento. Será que apenas esse era o melhor momento? Acho que não.

O “cheirinho” do material novo no primeiro dia de aula, o uniforme novo (na época da lancheira, escola pública adotava uniforme e tinha ótimo nível de educação), os trabalhos que tínhamos que entregar para os quais tínhamos que ir a biblioteca consultar a Enciclopédia Barsa, Saber em Cores e tantos outros livros. O trabalho em grupo, as peças de teatro, as apresentações na frente da turma, os trabalhos de educação artística com papel laminado, espelho, camurça, cola, tesoura, os mapas, as bandeiras em papel sulfite e tantos outros.

E as brincadeiras?! Daria pra ficar dias escrevendo a respeito. As festas juninas, dia das mães, dia dos pais (em minha época todas as crianças tinham pai), o dia das crianças, o dia do folclore, a páscoa, o dia do índio, o dia do professor, o natal e tantas outras comemorações.

Tenho certeza de que, até aqui, o caro leitor já viajou até sua infância e juventude, quando não se emocionou apenas com as lembranças.

A época de escola, que saudades! Esse é um dos principais erros de nossa sociedade. Achar que há época de escola. Que haja a época da educação básica, fundamental que todas as pessoas devam ter ou pelos menos deveriam, sem dúvida deve haver e sempre deixará enorme saudades. Mas achar que há um momento em que se deve parar de estudar é uma enorme falha.

Nunca devemos parar de estudar.

É evidente que a vida adulta trás deveres e obrigações que não tínhamos em nossa infância e juventude e que nos toma muito tempo não permitindo que dediquemos o mesmo tempo ao estudo que dedicávamos. Mas isso também não é necessário. Refiro-me a estar sempre lendo livros, jornais e revistas. Assistir documentários e programas educativos.

Costumeiramente as TVs passam programas com assuntos a respeito da natureza. Identifique qual a origem do programa. Quase sempre é de uma TV européia, principalmente inglesa. Isso demonstra a preocupação que esses povos têm com a cultura. Não é a toa que são considerados países de primeiro mundo. O povo se preocupa em ter cultura.

Isso traz reflexos muito ruins ao espiritismo. Na chamada época escolar devido às falhas no sistema pedagógico adotado, nos foi ensinado que deveríamos ler livros por obrigação, apenas para fazermos resumos e pontuar no vestibular. Essa prática fez com que as pessoas não gostassem de ler.

No espiritismo ler e estudar é fundamental.

Frequentemente me deparo com frequentadores de centros espíritas que não se atentam ao equilíbrio vibratório da casa, porque sequer sabem o que é isso. Outros tantos não consideram a constante influência dos mais variados tipos de espíritos na casa.

Não raro vejo pessoas achando que é possível afastar espíritos ruins como se acreditava na época dos antigos exorcismos. Há os que ainda acham que é possível desenvolver mediunidade quando Kardec ensinou que mediunidade é patológica. Outros tantos ignoram a seriedade, disciplina e assiduidade que o médium deve ter.

 

 

Muitos não percebem que o hábito de resmungar, reclamar, criticar e adorar contar o que de ruim aconteceu no dia, pode com frequência ser influência de espíritos desequilibrados.

Essas pessoas que acabam por fazer o papel de “eco” de espírito desequilibrado acham que tais comentários advêm de suas próprias mentes.

Quantos males físicos são apenas gerados por companhias espirituais.

Quantas doenças são apenas as chamadas “doenças fantasmas”.

Quantas angustias, sofrimentos, magoas simplesmente iriam se desfazer com o devido conhecimento mais profundo da doutrina espírita.

 

É muito comum ver em trabalhos mediúnicos pessoas que acham que são médiuns, mas se bem trabalhado, a sua aparente mediunidade sumiria com o seu reequilíbrio.

No entanto, quantos médiuns não conseguem trabalhar de forma equilibrada porque não há um dirigente com o devido conhecimento.

Não há como ser dirigente de centro espírita sem conhecer Kardec. Sem conhecimento os trabalhos da casa espírita sempre serão falhos.

Durante todos esses anos sempre encontrei pessoas que diziam nunca terem ouvido o que eu havia acabado de comentar, nunca tinham tido contato com tal conhecimento ou forma de ver.

Na verdade as pessoas nunca tinham tido contato com o conhecimento porque, muito infelizmente, ainda há o hábito de se estudar a doutrina por apostilas que trazem resumos de algo que não se pode resumir.

Há a época da educação fundamental e a época da educação avançada. A educação básica tem data para começar e terminar. A avançada não.

Lembro-me de quando saí do antigo pré primário para o primeiro ano do primário, meus país ensinaram-me que a partir de então haveria provas para passar de ano, que eu teria então que me dedicar aos estudos, que o primeiro ano em diante seria muito diferente, eu teria muitas obrigações.

Espiritualmente estamos na mesma situação. A partir de agora temos que estudar, temos mais obrigações.

No entanto isso não quer dizer que não pode ser bom. Em toda a nossa vida o estudo pode ser tão bom quanto foi na época da educação fundamental. Ler e estudar deve ser um prazer.
Um dos livros mais odiados pelos jovens vestibulandos é Os Lusíadas de Luís de Camões. No entanto é dele uma das definições mais bonitas e conhecidas do amor.


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

A obra Lírica de Luís de Camões



Luis Fernando F. Canhero