Há
alguns dias um perfil no facebook postou a foto de uma antiga lancheira. De
imediato a reação das pessoas foi intensa. Os comentários de “tive uma”, “que
saudades”, “bons tempos” e muitos outros surgiram aos montes, tanto que o
perfil confirmou ter sido a mais compartilhada.
Sem
dúvida alguma as lembranças de nossa época de escola sempre nos trazem boas
recordações vividas em um momento em que a vida nos era tranquila e alegre,
pelo menos para a maioria das pessoas.
A
lancheira então nem se fala. Ela era usada na hora do intervalo ou recreio como
se dizia em minha época. Era o melhor momento. Será que apenas esse era o
melhor momento? Acho que não.
O
“cheirinho” do material novo no primeiro dia de aula, o uniforme novo (na época
da lancheira, escola pública adotava uniforme e tinha ótimo nível de educação),
os trabalhos que tínhamos que entregar para os quais tínhamos que ir a
biblioteca consultar a Enciclopédia Barsa, Saber em Cores e tantos outros
livros. O trabalho em grupo, as peças de teatro, as apresentações na frente da
turma, os trabalhos de educação artística com papel laminado, espelho, camurça,
cola, tesoura, os mapas, as bandeiras em papel sulfite e tantos outros.
E
as brincadeiras?! Daria pra ficar dias escrevendo a respeito. As festas
juninas, dia das mães, dia dos pais (em minha época todas as crianças tinham
pai), o dia das crianças, o dia do folclore, a páscoa, o dia do índio, o dia do
professor, o natal e tantas outras comemorações.
Tenho
certeza de que, até aqui, o caro leitor já viajou até sua infância e juventude,
quando não se emocionou apenas com as lembranças.
A
época de escola, que saudades! Esse é um dos principais erros de nossa
sociedade. Achar que há época de escola. Que haja a época da educação básica,
fundamental que todas as pessoas devam ter ou pelos menos deveriam, sem dúvida
deve haver e sempre deixará enorme saudades. Mas achar que há um momento em que
se deve parar de estudar é uma enorme falha.
Nunca
devemos parar de estudar.
É
evidente que a vida adulta trás deveres e obrigações que não tínhamos em nossa
infância e juventude e que nos toma muito tempo não permitindo que dediquemos o
mesmo tempo ao estudo que dedicávamos. Mas isso também não é necessário.
Refiro-me a estar sempre lendo livros, jornais e revistas. Assistir
documentários e programas educativos.
Costumeiramente
as TVs passam programas com assuntos a respeito da natureza. Identifique qual a
origem do programa. Quase sempre é de uma TV européia, principalmente inglesa.
Isso demonstra a preocupação que esses povos têm com a cultura. Não é a toa que
são considerados países de primeiro mundo. O povo se preocupa em ter cultura.
Isso
traz reflexos muito ruins ao espiritismo. Na chamada época escolar devido às
falhas no sistema pedagógico adotado, nos foi ensinado que deveríamos ler
livros por obrigação, apenas para fazermos resumos e pontuar no vestibular.
Essa prática fez com que as pessoas não gostassem de ler.
No
espiritismo ler e estudar é fundamental.
Frequentemente
me deparo com frequentadores de centros espíritas que não se atentam ao
equilíbrio vibratório da casa, porque sequer sabem o que é isso. Outros tantos
não consideram a constante influência dos mais variados tipos de espíritos na
casa.
Não
raro vejo pessoas achando que é possível afastar espíritos ruins como se
acreditava na época dos antigos exorcismos. Há os que ainda acham que é
possível desenvolver mediunidade quando Kardec ensinou que mediunidade é
patológica. Outros tantos ignoram a seriedade, disciplina e assiduidade que o
médium deve ter.
Muitos
não percebem que o hábito de resmungar, reclamar, criticar e adorar contar o
que de ruim aconteceu no dia, pode com frequência ser influência de espíritos
desequilibrados.
Essas
pessoas que acabam por fazer o papel de “eco” de espírito desequilibrado acham
que tais comentários advêm de suas próprias mentes.
Quantos
males físicos são apenas gerados por companhias espirituais.
Quantas
doenças são apenas as chamadas “doenças fantasmas”.
Quantas
angustias, sofrimentos, magoas simplesmente iriam se desfazer com o devido
conhecimento mais profundo da doutrina espírita.
É
muito comum ver em trabalhos mediúnicos pessoas que acham que são médiuns, mas
se bem trabalhado, a sua aparente mediunidade sumiria com o seu reequilíbrio.
No
entanto, quantos médiuns não conseguem trabalhar de forma equilibrada porque
não há um dirigente com o devido conhecimento.
Não
há como ser dirigente de centro espírita sem conhecer Kardec. Sem conhecimento
os trabalhos da casa espírita sempre serão falhos.
Durante
todos esses anos sempre encontrei pessoas que diziam nunca terem ouvido o que
eu havia acabado de comentar, nunca tinham tido contato com tal conhecimento ou
forma de ver.
Na
verdade as pessoas nunca tinham tido contato com o conhecimento porque, muito
infelizmente, ainda há o hábito de se estudar a doutrina por apostilas que
trazem resumos de algo que não se pode resumir.
Há
a época da educação fundamental e a época da educação avançada. A educação
básica tem data para começar e terminar. A avançada não.
Lembro-me
de quando saí do antigo pré primário para o primeiro ano do primário, meus país
ensinaram-me que a partir de então haveria provas para passar de ano, que eu
teria então que me dedicar aos estudos, que o primeiro ano em diante seria
muito diferente, eu teria muitas obrigações.
Espiritualmente
estamos na mesma situação. A partir de agora temos que estudar, temos mais
obrigações.
No
entanto isso não quer dizer que não pode ser bom. Em toda a nossa vida o estudo
pode ser tão bom quanto foi na época da educação fundamental. Ler e estudar
deve ser um prazer.
Um
dos livros mais odiados pelos jovens vestibulandos é Os Lusíadas de Luís de
Camões. No entanto é dele uma das definições mais bonitas e conhecidas do amor.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
A obra Lírica de Luís de Camões
Luis Fernando F. Canhero